I Introdução
No cenário dinâmico da terapia intensiva pediátrica, o ultrassom à beira do leito tem revolucionado o diagnóstico e o monitoramento contínuo. Neste blog, exploraremos as últimas referências sobre o uso do ultrassom na terapia intensiva pediátrica, incluindo aplicações específicas e protocolos inovadores utilizados por pediatras e neonatologistas em todo o mundo.
|Aplicações e Vantagens do Ultrassom à Beira do Leito
Avaliação Cardíaca: visualização em tempo real das câmaras cardíacas para avaliar a contratilidade do coração, tamanho das cavidades e identificação de possíveis anormalidades.
Avaliação Hemodinâmica em Tempo Real: Uso de técnicas como Doppler para medir o fluxo sanguíneo e calcular o débito cardíaco, fornecendo informações cruciais sobre a perfusão.
Avaliação da Volemia: Observação da resposta do coração à ressuscitação de fluidos para avaliar a volemia do paciente. A utilização de ultrassom para verificar a resposta da veia cava inferior (VCI) à respiração auxilia na identificação de colapso venoso, sugestivo de hipovolemia.
| POCUS Pulmonar
O ultrassom pulmonar na população pediátrica é uma ferramenta valiosa que oferece diversas utilidades em diferentes situações clínicas. Aqui estão algumas das aplicações mais comuns e úteis:Avaliação de Infecções Respiratórias: O ultrassom pulmonar pode ser usado para avaliar a presença de consolidações pulmonares e derrames pleurais, indicativos de pneumonia.
Avaliação de Derrames Pleurais: O ultrassom é eficaz na detecção e avaliação de derrames pleurais em crianças, auxiliando na monitorização, punção aspirativa guiada com ou sem drenagem terapêutica.
Monitoramento de Pacientes em UTI Pediátrica: Pode ser usado à beira do leito para monitorar a resposta ao tratamento, progressão ou resolução de condições pulmonares em crianças em unidades de terapia intensiva pediátrica (UTI).
Avaliação de Lesões Pulmonares Traumáticas: Oferece uma abordagem rápida e não invasiva para avaliação de lesões pulmonares após trauma, como contusões pulmonares.
Diagnóstico de Atelectasia: Permite a identificação de áreas de atelectasia pulmonar, o que pode ser crucial em pacientes pediátricos que apresentam atelectasia pós-operatória ou durante estados de hipoventilação.
Avaliação de Anomalias Congênitas: Pode ser usado para avaliar anomalias pulmonares congênitas em recém-nascidos e crianças, proporcionando informações para o investigação complementar ou cirúrgicas.
Triagem em Casos de Insuficiência Respiratória Aguda: O ultrassom pulmonar pode ser útil na triagem rápida e na identificação de causas de insuficiência respiratória aguda em crianças.
Redução da Exposição à Radiação: Em comparação com exames de imagem que envolvem radiação, o ultrassom pulmonar oferece uma opção segura, especialmente em crianças, onde a exposição à radiação deve ser minimizada sempre que possível.
| Ultrassom em Intervenções Guiadas
O ultrassom guiado é uma técnica valiosa aplicada na terapia intensiva pediátrica para orientar procedimentos e avaliações diagnósticas de forma mais precisa e segura. Aqui estão algumas das aplicações mais comuns do ultrassom guiado em terapia intensiva pediátrica:
Acesso Vascular: O ultrassom é frequentemente usado para orientar a inserção de cateteres venosos centrais e periféricos, melhorando a precisão e minimizando complicações, especialmente em crianças cujo acesso vascular pode ser desafiador.
Procedimentos Guiados: Auxiliar em procedimentos diagnósticos e ou terapêuticos pleurais, peritoneais e pericárdicos, fornecendo orientação em tempo real da posição da agulha na cavidade de interesse.
Avaliação de Vias Aéreas: Utilizar ultrassom para avaliar a anatomia e a posição da cânula endotraqueal ou outros dispositivos de via aérea.
Avaliação Neurológica: Guiar procedimentos neurológicos, como a drenagem de hidrocefalia ou a colocação de cateteres para monitoramento intracraniano.
Procedimentos Renais: Facilitar procedimentos renais, como biópsias ou a colocação de cateteres para drenagem de urina em casos de obstrução.
| Protocolo RUSH na terapia intensiva pediátrica
O protocolo RUSH (Rapid Ultrasound in Shock) é um conjunto de diretrizes de ultrassom projetado para avaliação rápida e abrangente de pacientes em estado de choque. Ele é frequentemente aplicado em situações de emergência e é valioso na terapia intensiva, incluindo em pacientes pediátricos. O protocolo RUSH é uma ferramenta eficaz para identificar rapidamente as causas do choque e orientar a abordagem terapêutica. A aplicação do protocolo RUSH envolve a avaliação de quatro áreas principais:
Coração (choque cardiogênico): Avaliação das câmaras cardíacas para determinar a função cardíaca, procurando por sinais de insuficiência cardíaca, tamponamento cardíaco ou outras anormalidades.
Veia Cava Inferior (VCI) e Volume Intravascular (choque hipovolêmico): Avaliação da VCI para determinar o estado de volume, identificando sinais de desidratação, hipovolemia ou obstrução venosa.
Pulmões (choque obstrutivo): Avaliação ultrassonográfica dos pulmões para identificar padrões específicos que podem indicar causas obstrutivas do choque, como embolia pulmonar ou pneumotórax.
Aorta e Veia Femoral: Exame da aorta e da veia femoral para detectar sinais de ruptura ou trombose circulatória.
A aplicação do protocolo RUSH é geralmente realizada de forma sequencial e rápida, permitindo uma avaliação global do paciente em choque em questão de minutos. Isso é crucial para orientar decisões terapêuticas imediatas. Em pacientes pediátricos, a adaptação do protocolo RUSH é feita considerando as características anatômicas e fisiológicas específicas dessa população.
| Protocolo SAFE-R
O protocolo “SAFE-R” utilizado em unidades de terapia intensiva neonatal para o diagnóstico direcionado por ultrassom de bebês que estão em processo de descompensação súbita. Ele visa auxiliar os médicos na identificação rápida de potenciais causas subjacentes e na tomada de decisão para o manejo adequado do paciente.
Embora os detalhes exatos do protocolo SAFE-R possam variar dependendo da instituição e do contexto clínico, geralmente envolve uma avaliação abrangente por meio de ultrassom em áreas específicas, como o coração, pulmões, abdômen e sistema nervoso central. Essa avaliação direcionada pode ajudar a identificar anormalidades cardiovasculares, pulmonares, gastrointestinais, neurológicas e outras que possam estar contribuindo para a deterioração do bebê.
A implementação do protocolo SAFE-R requer médicos especializados em ultrassonografia e familiarizados com as particularidades do ultrassom em neonatologia. É importante ressaltar que esse protocolo é apenas uma ferramenta complementar ao exame clínico e a outros exames diagnósticos disponíveis nas unidades de terapia intensiva neonatal.
| Conclusão
O ultrassom à beira do leito está transformando a abordagem diagnóstica e o monitoramento em crianças na terapia intensiva pediátrica. Ao utilizar protocolos específicos e seguir diretrizes sugeridas pela literatura, os pediatras podem oferecer um cuidado mais preciso e personalizado para cada paciente. O futuro dessa tecnologia promete melhorias contínuas na prática clínica e na qualidade dos cuidados pediátricos, à medida que novos protocolos específicos para a terapia intensiva pediátrica são desenvolvidos e validados.
|Referências:
"Point-of-care Ultrasound in Pediatric Emergency Medicine and Critical Care: A Review" (Adedipe et al., Pediatric Emergency Care, 2021)"Bedside Ultrasound in Pediatric Critical Care: A Review" (Kwok et al., Journal of Intensive Care Medicine, 2022)
"Pediatric point-of-care ultrasound: current state and future perspectives" (Ianni et al., Journal of Ultrasound, 2023)